quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O conflito no Golfo


O Blog se propõe a debater e analisar a Guerra do Golfo, portanto, busquemos primeiramente entender como se deu tal conflito. A desavença teve início com a decisão do Kuwait que visava aumentar a extração de petróleo, mas a conseqüência de tal ato seria a baixa no preço do produto, o que afetaria a economia iraquiana. O governo do Iraque exigiu uma indenização que não foi paga e, reivindicando antigas questões relacionadas às terras da fronteiras entre os dois países, ocupa o Kuwait e passa a controlar seus campos de petróleo no dia 2 de agosto de 1990.
A ação foi rapidamente internacionalmente condenada, os bens dos Emirados Árabes foram bloqueados e as opiniões desfavoráveis à iniciativa iraquiana só se confirmaram com as medidas do governo de Saddam Hussein, que fez mais de seis mil cidadãos ocidentais reféns, os conduzindo ao Iraque. A ONU impôs um boicote comercial, financeiro e militar ao país no dia 4 de agosto e Saddam responde declarando o Kuwait a 19ª província do Iraque. O embate até então diplomático vinha apontando cada vez mais para o início da luta armada. Em 29 de novembro a Organização das Nações Unidas já havia autorizado o uso da força caso o Iraque não retirasse suas tropas do país vizinho. Diante de sua recusa, foi iniciado um grande ataque áereo em 17 de janeiro de 1991, sendo seguido pela invasão das tropas de coalização liderada pelos EUA. Durante o conflito, o exército iraquiano realizará um ataque aéreo contra Israel na tentativa de envolver todo o mundo árabe no conflito e, assim, se fortalecer. No entanto, não obteve sucesso nessa tentativa e foi derrotado na disputa do Golfo Pérsico.
Em 28 de fevereiro de 1991, o presidente George Bush propôs ao Iraque um cessar-fogo, que só foi aceito no mês de abril. O Iraque sofreu sanções após o fim do conflito, vendo-se obrigado a cumprir as regras do acordo pelo fim da guerra. No entanto, Saddam consegue se manter no posto de presidente e o país não sofre nenhuma mudança em sua estrutura política, apesar de ter de enfrentar o descontentamento interno de alguns grupos. O saldo da guerra para o Kuwait foi oneroso, uma vez que os poços de petróleo incendiados pelas tropas iraquianas e o óleo jogado no Golfo provocaram um desastre ambiental e um grande prejuízo financeiro, lembrando ainda dos custos humanos da guerra que também foram altos em todas as esferas do conflito. A chamada mãe de todas as guerras pelo presidente iraquiano fez milhares de mortos e deixou evidente a força militar americana. A tecnologia de guerra utilizada impressionou a população mundial que assistia ao vivo aos ataques e os EUA saíram do conflito confirmando a posição de potência mundial no ano em que a URSS se desfragmentada e terminava a Guerra Fria.

Corbertura da Guerra do Golfo

Os homens do final do século XX vivenciaram através das telas de TV, cenas da Guerra do Golfo Pérsico, em 1991. Enquanto permaneciam em seus aposentos, o mundo inteiro teve a possibilidade de assistir, como num jogo de video-game, a movimentação das tropas, as imagens dos bombardeios aéreos e explosões de mísseis. Como ficou conhecida devido as operações cirúrgicas de vídeo, a video-guerra, quando transportada para a televisão, fornecia imagens que a fazia parecer uma “guerra limpa”, sendo os corpos das vítimas pouco expostos, levando a uma desumanização da guerra, com os alvos e populações transformados em simples pontos de luz fornecidos por computadores. Tais imagens ajudaram a construir a mensagem de que os mísseis eram certeiros e as vítimas civis mínimas. Sendo assim pode-se perceber que o imaginário de guerra pretendido pelos militares norte americanos, era aquele que a afastasse das ruínas, dos feridos, das vítimas, do sangue, se assemelhando por isso a um video-game. É bem verdade que a grande maioria dos americanos (87%) estavam apoiando as atitudes do presidente, então Bush, como apontam as pesquisas do Gallup.
De acordo com Sérgio Mattos, a vítima inicial da Guerra Do Golfo foi, contudo, a imprensa. Sofrendo um intensa censura de ambos os lados da Guerra, foi manipulada de acordo com os interesses tanto dos EUA, como de Saddan Hussein. Acabou por exercer um papel de mediadora das relações públicas. Na Guerra do Golfo, excetuando-se algumas ocasiões, a imprensa se viu limitada a fornecer reportagens produzidas pela CNN que, da mesma forma, estava submetida à censura do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Passadas algumas semanas do início da guerra, ninguém sabia ao certo o número de mortos, os alvos acertados, bem como as perdas materiais. Os jornalistas ou os enviados de guerra, só tinha a possibilidade de cobrir a guerra através de sistema de “pools” - pessoas escolhidas antecipadamente, sob interferências dos militares. Para além de tal sistema quem monopolizava as informações eram EUA e Inglaterra, sendo os representantes do primeiro interpretados como agentes a serviço dos militares norte americanos, denunciando outros jornalistas casa estes desobedecessem o esquema. A mídia foi impedida inclusive de fornecer informações acerca dos mísseis, chegando inclusive a proibir imagens dos corpos dos soldados americanos. Tal situação não aconteceu, contudo, sem que surgissem protestos. A própria imprensa brasileira – no caso a Folha de São Paulo – denunciou os abusos de censura dos governos envolvidos.
A Guerra do Golfo, geradora do efeito fliperama, por ser recente, foi acompanha por grande parte da população em suas próprias casas. Porém, a grande parte desses indivíduos foi ocultada a informação de que o que estavam assistindo ou lendo era, na realidade fruto de censura, uma manipulação prévia seja por parte dos EUA ou de Saddam Hussein. Era antes a versão dos militares do que a de seus correspondentes que em sua maioria permaneceram fora das frentes de batalhas, quando não enclausurados em hotéis.
Podemos perceber, no nos dois vídeos abaixo, que os repórteres falam abertamente sobre a questão da censura. O vídeo que pode ser acessado através do link é bastante interessante, pois além do repórter mencionar as restrições impostas à cobertura, sua matéria é sobre a tecnologia dos aviões, o que deixa bastante evidente a “falta” de notícias.

http://www.youtube.com/watch?v=uMtnbUYENu8

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Guerra do Golfo e Guerra do Vietnã

Para compreender a forte censura presente na Guerra do Golfo é essencial retomar alguns aspectos da Guerra do Vietnã que, para muitos, foi considerada um exemplo demonstrativo do que não deveria ser feito em uma cobertura jornalística de guerra. Foi na intenção de evitar a repetição do ocorrido em terras vietnamitas que a intensa censura no Golfo é explicada.
Na Guerra do Vietnã, postulada por alguns como a guerra mais bem noticiada de todas, os Estados Unidos não impuseram censura. Pelo contrário, adotaram, de início, uma postura de divulgação da guerra (de acordo com sua versão, é claro), digna de uma verdadeira campanha de Relações Públicas. Optaram por medidas tais como: convidar jornalistas, permitir a estes o acesso direto aos transportes das forças armadas, (principalmente os helicópteros) e concederam a permissão da veiculação de imagens pela TV. Percebe-se, assim, que em um primeiro momento os jornalistas abandonaram uma “conduta ética”, uma vez que deixaram de cumprir com o procedimento de ouvir as duas versões da história. Todavia, no decorrer do conflito, onde as perdas norte-americanas foram se acentuando, a imprensa pode ter exercido um papel influenciador sobre a opinião pública, auxiliando na formação de imagem negativa da guerra.
Embora alguns neguem que a cobertura da imprensa tenha sido o motivo da derrota norte-americana no Vietnã, outros atribuem a esta a causa principal. Isto porque ao exercer influência sobre a população norte-americana, esta teria contribuído para a constituição de uma falta de apoio popular interno ao conflito, evidente nos grandes protestos realizados na época, como a Marcha para o Pentágono de 1967 (ilustrada na foto), o que teria sido fundamental para o fracasso estadunidense. Tendo em vista estas diferentes visões, consideramos este um interessante tema para um debate. Até que ponto se pode pensar que a imprensa exerce tal poder sob a população? Esta teria sido fundamental para o rumo que tomou a Guerra do Vietnã? Tais questões suscitam debates e podem levar a opiniões divergentes. Entretanto é fundamental ressaltar que mesmo que a cobertura jornalística não tenha sido a causa da derrota norte-americana, esta foi, sem dúvidas, essencial para um novo modo de cobrir guerras, marcado pela censura, cujo marco inicial teria sido justamente a Guerra do Golfo.

Cobertura de guerra após a experiência no Golfo

A Guerra do Golfo, como já foi dito, inaugura uma nova forma de cobertura jornalística que marcou de forma decisiva a maneira de se fazer jornalismo de guerra a partir de então. A análise da cobertura que hoje se faz da Guerra do Iraque nos possibilita estabelecer inúmeros paralelos com o que se fez no início da década de 1990 e, assim, pensar na cobertura do Golfo como o início de um novo modelo que permanece em cena.


Assim como no conflito no Golfo, a maior parte do que circula na mídia provém das informações oficiais que são passadas pelo Pentágono. A censura e a manipulação atuam fortemente no que se publica nos veículos de comunicação. Além disso, não se vêem imagens de soldados americanos mortos ou em situação de extremo perigo ou situação dramática. Os mortos que aparecem são os civis iraquianos. Os soldados americanos mortos aparecem em fotos oficiais das forças armadas, dando-lhes sua "merecida dignidade" e escondendo as circunstâncias em que morreram.


O que a Guerra do Iraque traz de inédito é a estratégia de utilizar jornalistas "embutidos", que acompanhavam as tropas, o que transformou estes em alvos e em protagonistas indiretos do conflito. Isso foi feito, em parte, por causa da pressão dos meios de comunicação não-satisfeitos com a cobertura da guerra anterior e também pela dificuldade de se aplicar a censura em comunicações diretas por satélites. É claro que o Pentágono tinha a intenção de gerenciar o conteúdo do que seria noticiado através dessa tática de "enturmar" os jornalistas entre os soldados.

Já que esse é um ponto que distingue a cobertura das duas guerras, proponho que se pense no que isso torna a cobertura da Guerra do Iraque diferente da cobertura da Guerra do Golfo e como isso afeta de forma distinta na opinião pública.